Justiça sapateando...

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Pare pra pensar: as propagandas da Justiça Eleitoral são um máximo, não são? Mas vocês não acham que quem está sapateando há muito tempo é o próprio órgão? Eles insistem: pesquise o passado dos candidatos, jogando pro eleitor parte de um trabalho que eles já poderiam ter feito. Do que estou falando? Bem, a seleção de candidatos é uma via de mão dupla, é feita pelo eleitor na hora de votar, mas antes pela Justiça que dita as regras do jogo. Ocorre que a Justiça Eleitoral permite a inscrição de candidatos que estejam respondendo a processos judiciais, argumentando que somente o término do julgamento pode alegar culpa ou inocência e não primeiras ou segundas instâncias.

Compreendo que iria de encontro à ética pré-julgar um sujeito, mas, a meu ver (e a Associação dos Magistrados do Brasil, AMB, parece concordar comigo), para esse tipo de disputa, estar em tramites judiciais, sendo ou não culpado, já é incompatível com a proposta moral de reger uma sociedade. A AMB vem divulgando, desde julho, listas com os “candidatos ficha suja” de todo o país, na tentativa de ao menos suavizar o prejuízo da Justiça Eleitoral ao abrir tal precedente e de alertá-la para a importância e urgência de voltar atrás nessa decisão. A maioria dos apontados pela Associação dos Magistrados está em julgamento por improbidade administrativa, vocês sabem o que é isso? Eu também não sabia, estive lendo, vou tentar explicar: em geral é o mesmo que uso indevido da máquina administrativa, desvio de recursos, lesão dos cofres públicos, vantagem econômica, mas, se pensarmos ao pé da letra, improbidade significa falta de probidade, de caráter, de honestidade. Não é só uma lesão administrativa, mas moral, pode-se dizer até pessoal. Que tipo de precedente é esse, meus caros?

É importante deixar claro que, se a Justiça Eleitoral impedisse os indivíduos em julgamento de concorrer, isso não significaria que eles não poderiam tentar novamente, depois de resolutas suas querelas com a justiça. O que custaria a uma pessoa que se julga inocente e quer mesmo fazer algo por seu município, resguardar-se por um tempo para resolver seus problemas? Para o eleitor, que, em rigor, não tem a possibilidade de acompanhar o andamento dos processos de cada candidato, é muito mais difícil fazer essa seleção.

É válido incitar a pesquisa à vida do candidato e a atenção com o caráter dele, mas, às vezes, isso me soa como jogar pro outro uma responsabilidade que não se quer justamente pra não se “queimar” com ninguém, afinal, não se sabe o dia de amanhã e quantas vezes as mãos de políticos e da Justiça não se lavaram mutuamente aqui na terrinha, né?

Deixo aqui o site da AMB, que tem feito um trabalho de investigação primoroso (e pessoalmente tem conseguido me fazer não ter nojo de TUDO o que vem do judiciário). A associação informou no último dia 4 de setembro ao jornal O Globo que “Dos 401 candidatos a prefeito e vice em cidades com mais de 200 mil eleitores, 9,2% são réus na Justiça”. Esse número é, a meu ver, alarmante. Em Fortaleza ainda não encontraram candidatos que se enquadrem nos parâmetros utilizados pra pesquisa, mas é bom ficar fuçando a lista negra de vez em quando.

A assessoria do Paulo Maluf, um dos currículos mais recheados da lista negra da AMB, retrucou que juízes não deveriam se meter em eleições. E então, quem concorda?


Pra vocês se inteirarem:

http://www.amb.com.br/?secao=mostranoticia&mat_id=15545

A Lista Negra:

http://www.amb.com.br/index.asp?secao=listacandidatos

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1 Comentando: to “ Justiça sapateando...

  • Anônimo
    18 de setembro de 2008 às 22:14  

    texto muito bom, parabéns por também me fazer acreditar que até do judiciário pode vir coisas boas.

    estou acompanhando atento e ávido por novos post sobre as eleiçoes, tá ficando muito bom, ..
    ah, tenta aumentar o tamanho da letra nas charges.

    chero

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